Na cidade da Sagrada Família, outras igrejas também merecem seu devido destaque. Representando um perfeito modelo da arquitetura gótica catalã, a igreja de Santa Maria del Mar é uma delas. E realmente recomendo a visita.
Vale a pena por sua beleza, por sua história, por estar em uma região encantadora da cidade – el Born – e também, claro, por ser gratuita!
Conhecida também como a catedral da Ribeira, ela foi construída de forma “rápida”, em apenas 55 anos (de 1329 a 1384), contando com a grande e ativa participação da população que vivia na região.
Antigo bairro de pescadores e estivadores, a Ribeira tornou-se cada vez mais próspero, demandando a construção de um templo maior para os devotos da Virgem Maria. Mas, como na época a cidade concentrava sua atenção e dinheiro na reconstrução da Catedral, com um caráter bastante mais nobre e rico, restou à população do bairro concentrar força (econômica e braçal) no intuito de erguer aquele que deveria ser o maior templo dedicado à Virgem.
O caminho foi árduo. Não só pela empreitada em si, mas por alguns episódios trágicos que marcaram sua história: em 1350 a igreja já contava com paredes, capelas laterais e fachada. No entanto, treze anos mais tarde um terremoto que atingiu a cidade derrubou o campanário e, prestes à conclusão do quarto trecho das abóbadas, um incêndio destruiu a Igreja, atingindo tudo aquilo que não fosse de pedra: a sacristia, os órgãos, os altares e o coro.
Após a recuperação e reconstrução de sua estrutura, a Igreja de Santa Maria del Mar foi inaugurada no dia 15 de Agosto de 1384.
Os primeiros mestres de obra da basílica foram os arquitetos Berenguer de Montagut e Ramon Despuig. Representando a única igreja de estilo gótico catalão puro, diferente do gótico europeu, o templo se caracteriza por sua horizontalidade e por sua decoração sóbria, transmitindo uma forte sensação de amplidão e leveza.
Suas 3 grandes naves possuem quase o mesmo tamanho, o que gera uma sensação de estarmos em um espaço unitário, e são compostas por enormes e imponentes colunas de 13 metros de altura separadas com grande distância entre elas. Com uma ótima acústica, a igreja até chega a ser palco concertos de música clássica e jazz.
Simples e com pouca ornamentação, sua beleza ganha força com os vitrais que fazem entrar pelas numerosas janelas do templo uma luz intimista e particular. A grande rosácea central tem um diâmetro de cerca de 10 metros, tendo que ser totalmente reconstruída em 1940 após outro incêndio que assolou a Igreja no ano de 1936 (no contexto da Guerra Civil), que também destruiu parte da ornamentação interior, como o altar barroco e o órgão do século XVIII.
Fora da Igreja, vale a pena destacar alguns detalhes: a fonte gótica de 1402, que possui uma placa da Santa Maria; o Fossar de les Moreres, localizado em frente a uma de suas fachadas laterais, e que representa um espaço de grande importante simbólica aos catalães: com sua tocha com chama sempre acessa, está dedicado à memória dos que morreram defendendo a cidade na Guerra de Sucessão, em 1714; e, finalmente, o Passeig del Born, um passeio rodeado de bares e cafés, sediando um pouco da vida boêmia e noturna de Barcelona.
Igreja de Santa Maria del Mar
Como chegar: Metrô – estação Jaume I (L4 – linha amarela)
Horário de visita: Seg a Sáb de 9h às 13h30 e de 16h30 às 20h
Dom. e feriados: 10h30 às 13h30 e de 16h30 às 20h
Entrada Gratuita
Dica 1: Para quem gosta de literatura, a igreja é destaque em algumas obras, como no livro La Catedral del Mar, de Ildefonso Falcones. O livro narra uma história que se passa no século XIV, abordando a vida de um servo que foge do senhor feudal e que se refugia na cidade de Barcelona. Ainda que não fale diretamente e somente sobre ela, a Igreja de Santa Maria del Mar ganha destaque, já que sua construção é realizada paralelamente à história do protagonista. E em A Sombra do Vento e El Juego del Ángel, de Carlos Ruiz Zafon, a Igreja também marca presença no desenrolar de suas tramas.
Dica 2: Gastronomicamente, a dica fica para a Botifarreria de Santa Maria, onde você encontra embutidos de todo tipo e para todos os gostos, como jamon, fuet, além, claro, de sua especialidade: as famosas butifarras (linguiças) tradicionais ou com recheios que vão de espinafre a foie gras.
Photo Credits
Santa Maria del Mar – fachada: Son of Groucho
Santa Maria del Mar – interior: Faris Algosaibi
Fossar de les Moreres – Richie Diesterheft
