A Guerra Civil Espanhola é um fato histórico que ainda segue marcante e muito presente na cidade de Barcelona. Não apenas pelos estragos causados entre os anos de 1936 a 1939, como também pelas consequências históricas e até psicológicas deixadas nas ruas da cidade e nas vidas de muitos barcelonenses.
Barcelona foi uma cidade que sofreu consideravelmente durante o período da Guerra. Fiel à República e com o apoio dos obreiros e instituições sindicais, Catalunha resistiu fortemente à ofensiva militar fascista, que ganhava cada vez mais o apoio da Itália e da Alemanha diante do pedido de ajuda do general Franco.
Como consequência, a cidade sofreu ataques e bombardeios aéreos, sendo umas das primeiras cidades do mundo com mais de 1 milhão de habitantes a ser bombardeada de forma massiva, contínua e regular.
Atingindo covardemente a sociedade civil, os bombardeios – cujo apoio principal vinha da Itália – tinham basicamente a finalidade de criar pânico entre os cidadãos e desestabilizar a sociedade barcelonesa.
Um dos piores episódios aconteceu entre os dias 16 e 18 de março de 1938, quando a cidade foi bombardeada quase incessantemente, com intervalos de apenas 3 horas entre os ataques.
Refúgios antiaéreos
Sirenes constantes anunciando novos ataques, a incerteza de quando um novo bombardeio poderia acontecer, os alvos sem qualquer objetivo militar… Três anos que deixaram os cidadãos esgotados e exaustos pela incerteza e pânico gerados pelo terrorismo aéreo fascista.
Diante dessa realidade, milhares de cidadãos passaram a se refugiar dentro de suas próprias casas as quais, no entanto, tampouco representavam um lugar seguro em meio às bombas.
Dessa forma, os cidadãos necessitavam de alternativas para sobreviver aos bombardeios. A partir da demanda da Junta de Defesa Passiva do Governo da Catalunha, o engenheiro Ramon Perera encontrou, então, um sistema útil e prático: a criação de refúgios antiaéreos, ou seja, túneis debaixo da terra, com acesso através de entradas a partir da própria rua e com uma estrutura simples e básica para receber e manter um determinado número de pessoas durante algumas horas de bombardeios.
Segundo pesquisas, Barcelona chegou a contar com 1.365 refúgios espalhados por seu território. Entre eles, apenas 24 foram construídos e oferecidos aos cidadãos pela prefeitura. Os demais, todos eles foram construídos pelos próprios civis, que se organizavam em suas associações de vizinhos para planejar e construir com suas próprias mãos abrigos mais seguros contra os ataques aéreos.
E de todos esses refúgios, alguns ainda podem ser encontrados e até visitados hoje em dia. Um deles é o Refúgio da Plaça del Diamant, localizado no bairro de Gràcia. Descoberto em 1992 a partir da construção de uma estação elétrica, o refúgio foi recuperado, passou por processos de restauração, sendo finalmente aberto ao público em 2006.
Graças a sua humidade e temperatura, ele é considerado uns dos refúgios mais bem conservados da cidade.
O Refugi de la Plaça del Diamant possui 13 metros de profundidade e uma capacidade de 200 pessoas. Ao longo de seus 250 metros de extensão, espalhados em seus túneis ziguezagueados debaixo da praça, ainda é possível sentir um pouco da agonia e tensão vividas na época.
Suas paredes e tetos de tijolo, seus bancos ao longo de quase todo o túnel, as marcas pretas nas paredes da fumaça que saia das velas que iluminavam o local…é fácil deixar-se transportar para a época e imaginar, ao menos um pouco, a situação de tantas pessoas que corriam para o abrigo após ouvir a sirene de aviso de novo bombardeio.
Visitas ao refúgio
As visitas realizadas ao refúgio são sempre guiadas e a partir de reservas feitas junto ao Taller de História de Gràcia. A duração é de cerca de 1h45, que começa com uma breve contextualização sobre a Guerra Civil e sobre os bombardeios realizados na cidade.
Ainda antes e durante o percurso, o guia também fala sobre os aspectos mais técnicos de construção do refúgio, além de como funcionava o acesso das pessoas a ele: até mesmo para fugir de bombas, era necessário ao menos uma colaboração financeira, já que toda a construção foi realizada pelos próprios moradores da região.
As visitas são realizadas aos Domingos, custam 3 euros e podem ser realizadas em catalão ou, a pedido dos visitantes, em espanhol. Para tanto basta ligar para os telefones 93 219 61 34 e 647 843 084 ou enviar um email ao [email protected].
Uma ótima pedida para quem deseja conhecer de perto uma história de suma importância para a memória social e cultural de Barcelona.
Pequeno documentário sobre os bombardeios à Catalunha durante a Guerra Civil. Está em catalão, mas, para quem não entende, também vale pelas imagens.
